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O reencontro
16 de janeiro, 2017 - por Max Franco
– André, como vai? – disse Leandro ao telefone. – Então, você vai para o reencontro da turma?
– Opa, Leandrão, tudo bem?! Cara… Não. Não vou. Estarei trabalhando no dia.
– No domingo?
– Vai ser domingo?
– Pois é, vai. – falou Leandro incisivo. – Diz. Por que você não quer ir? Nós éramos uma turma tão unida.
– Cara, esta é a questão, “éramos”…
– Mas, faz mais de 20 anos! Não daria para continuar da mesma forma.
– Como assim da mesma forma? De que forma continuou? A gente faz estes reencontros de vez em quando, ri das mesmas piadas, relembra os velhos episódios, comenta a barriga e a queda de cabelos um dos outros e faz promessas que não serão cumpridas. Qual é a diferença dos outros grupos?
– Você tem uma visão meio amarga da coisa. Qual mal pode fazer? De repente, pode até ser uma desculpa para nos aproximarmos. Estamos tão distantes…
– De fato. Você se lembra como éramos unidos. Falávamos de envelhecer juntos, de ser padrinhos de casamento e dos filhos uns dos outros. Falávamos de amizade eterna, de irmãos que não eram de sangue, mas irmãos para sempre. Nós juramos. E eu, idiota, acreditei.
– Os jovens são românticos, André. É normal. Não padecemos mais dessa falta de idade nas costas. Hoje, somos adultos e realistas.
– Não quero este excesso de realidade. Quero acreditar em amizades sem interesses. Quero ter dois amigos, mas que sejam de verdade. Não tenho tempo a perder com relações de amenidades.
– Eu entendo você. Mando abraços para o pessoal?
– Claro. Manda abraços para o João, que esteve na cidade depois de anos e não deu as caras, manda também para o Guilherme, a quem procurei quando precisei de ajuda e ele não moveu um dedo, mesmo depois de eu ter segurado a onda dele naquela época da falência, manda beijos para a Joana, que me deu as costas sem eu jamais ter lhe feito qualquer mal, manda um abração para o Arnaldo, que me aprontou aquela sacanagem… Na verdade, estou convencido de que o errado sou eu. É muita coincidência que tantos me dispensem este tipo de tratamento sem motivos. Certamente, eu que sou o culpado.
– André, não se ache tão especial. Eu tenho esta mesma impressão. A verdade é que a vida nos separou. Cada um foi cuidar da sua vida e apenas dela.
– A vida, Leandro, não faz nada. Nós que fazemos a vida. As escolhas foram nossas e nós respondemos por elas. Não dá para viver culpando Deus, o Destino ou o Tempo.
– Cara, eu tive uma ideia e acho que você vai topar. Vamos fazer o seguinte: desencontramos o reencontro e nos encontramos só nós dois. Eu sou seu irmão por escolha e quero continuar sendo, nem que sejamos apenas nós.
– Domingo na mesma hora do reencontro no velho bar?
– Ele fechou. Não sabia? Podemos achar outro?
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