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O seu personagem

23 de junho, 2024 - por Max Franco

Todos têm uma história, embora nem todos tenham consciência dela ou nem sequer saibam como contá-la. A verdade é que todos temos as nossas histórias e algumas são bonitas como aquelas dos filmes e dos livros dos quais gostamos.
Por isso, todo encontro de pessoas é também um encontro de histórias. E a gente, cada um de nós, nem que seja por breve instante, exerce um papel na história dos outros. Há todo tipo de encontro, e cada um deles gera uma nova história. Às vezes, agimos como meros figurantes nas vidas alheias. Às vezes, somos aliados leais. Noutras, consciente ou inconscientemente, atuamos como vilões. Podemos ainda nos transformar em mentores daqueles que se aproximam de nós e, nesses momentos, podemos oferecer saídas, soluções, orientações e ensinamentos para os demais. Há também aqueles fortuitos momentos nos quais nos constituímos como heróis nas jornadas alheias. Quem sabe nas histórias dessas pessoas. Quem sabe até na sua própria história.
Os encontros são plurais, porque podemos exercer qualquer papel e atuar como qualquer personagem com as pessoas que nos encontram. Ocorre até de sermos heróis de manhã e coadjuvantes à noite, ou aliados de tarde e, depois de meia hora, sermos os mais execráveis bandidos, porque nossa ação é sempre dinâmica, elástica, diversa e complexa. A Vida, afinal, nunca é coisa simples.
Na minha história, posso dizer, já fui alguns tipos de personagem. Alguns, inclusive, mereceriam oscar; já outros, nem tanto.
Pelos olhos de haters a minha história sempre é vista da pior forma possível. E – por esse viés – é contada.
Aqueles que me amam contam a minha história de outra maneira.
Ninguém é isento nem objetivo quando enxerga e conta uma história. Somos sempre contagiados pela própria forma de ver o mundo. Como diz Leonardo Boff “Todo ponto de vista é a vista de um ponto.” Somos todos, portanto, cronistas de nós mesmos. Somos todos infectados pelo nosso contexto.
Entretanto, há equívocos que não deveríamos cometer, mas estes ocorrem amiúde. Não deveríamos, por exemplo, tratar como protagonista quem nos trata como coadjuvante. Nem o contrário. Não deveríamos tratar como vilão quem nos enxerga como parceiro. Não deveríamos tratar como herói quem, de fato, é bandido. Cada pessoa nos coloca numa prateleira qualquer em uma determinada altura. Erra quem posiciona alguém na sua vida em um patamar diferente do que esse mesmo sujeito te destina. Tudo, afinal, é uma questão de posicionamentos. A decepção sempre é oriunda desse tipo de comportamento. Não cometa o erro de dispor alguém mais alto do que você na prateleira.
Porque cada um tem a própria história e se você não valorizar o seu personagem, quem o fará?