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O valor do ouro
14 de março, 2023 - por Max Franco
Wilde, o grande Oscar Wilde, considerado por muitos como o primeiro homem moderno, entre outras coisas, dizia:
-Vivemos em mundo onde tudo tem preço e nada tem valor.
E o dizia há mais de cem anos.
Isso não é um aforismo, isso é profecia.
Cá estamos em um mundo no qual absolutamente tudo tem preço e, realmente, nada parece ter mais valor.
Nelson Rodrigues dizia que dinheiro comprava até amor verdadeiro.
Mas e se…
Podemos conjecturar o “e se”, podemos? Ainda podemos? Não é – ainda – de todo reprovável pensar diferente do lugar-comum. Não é proibido cogitar uma modalidade de vida que não siga os ditames sociais vigentes nos dias hodiernos. Então – ao menos – pensemos.
O valor das coisas não é intrínseco. Não há valores universais nem atemporais. O que é valor aqui nem sempre é acolá. O que é valor hoje, provavelmente, não era ontem, nem, talvez, será amanhã. Em outras palavras, valor atribui-se, aqui e agora.
O ouro, por exemplo, por qual motivo tem valor? Para que serve o ouro na prática? Para nada. E por que ele tem valor? Porque entramos no consenso que ouro tem valor. Tire o consenso, o padrão, a tradição, o acordo, e o que sobra? Um metal dourado. Valioso? Não obrigatoriamente.
O ouro é apenas mais uma narrativa que convenceu muita gente.
O ouro tem valor porque dizemos que tem, porque acreditamos que tem, porque entramos no consenso de que tem.
Por que as vidas de crianças desamparadas não têm igual valor do que o ouro nos dias atuais? Porque não chegamos a esse consenso.
Por que a preservação da natureza não tem igual valor do que o ouro nos dias atuais? Porque não chegamos a esse consenso.
Por que todo o povo Ianomami precisa padecer na fome, doença e miséria para que alguns, poucos, possam colocar suas mãos no valioso metal? Ouro vale mais que vidas, decerto.
Muitas interrogações semelhantes poderiam ser suscitadas e, para todas, chegaríamos a igual conclusão: não damos valor a algumas coisas porque ainda não nos dispusemos, como sociedade, para tal.
E se a gente aproveitasse o momento para resetar tudo? Bem que podíamos dar um restart na máquina e reprogramá-la toda alterando alguns paradigmas fundamentais. Que bom seria.
E se as vida humanas, quaisquer que fossem, tivessem valor para todo ser humano?
E se grana, status e poder não fossem as pautas mais importantes?
E se a natureza fosse encarada com respeito?
E se ética e empatia não fossem apenas clichês?
E se a gente esquecesse toda burocracia idiota, todas etiquetas bobas, todos os padrões retrógrados, todos os preconceitos tolos e se olhasse com a vista limpa de todos os julgamentos enferrujados?
E se gente combinasse outras formas de viver e conviver? Bastaria isso: combinar.
Bastaria trocar valores por outros. Bastaria ressignificar, rebatizar, reordenar e redefinir as prioridades.
Difícil? Decerto.
Impossível? Talvez.
Mas, sonhar ainda não é – de todo – subversivo.
Pois sonharei com esses “e ses” e terei os melhores sonhos. Dormirei abraçado aos meus sonhos vãos e azuis.
Até o dia que sonharei eterno.
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