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Quem espera

07 de abril, 2016 - por Max Franco

Nessas quatro décadas e mais algo que vago por aí, aprendi muita coisa e desaprendi outro bocado. Por sinal, já deu para aprender, negar o que aprendi e, depois, aprender novamente o que tinha relegado. Como não poderia ser diferente, acumulei com isso, mais dúvidas do que certezas. Triste sina de quem vive com um ponto de interrogação portátil por aí. É que pensar dói.
Já disse é repeti muitas vezes: queria mesmo era um pastor para me conduzir, um mestre para me guiar, um xamã para me orientar, uma superstição para temer, um chá qualquer para tomar, uma doutrina para me regrar, uma causa totalitária para me devotar, uma paixão arrebatadora para me cegar… Só o que me impede é algo simples: eu não consigo. Minha maquininha de acreditar deu bug. ( Deveria resetar? Reiniciar? Trocar o hardware? )
Por isso que defendo: feliz é quem não cogita. O que nos desengana é a opção, é possibilidade das alternativas, é a variedade de escolhas, e a nossa eterna condenação à liberdade.

Esperar é a antesala da desilusão.
Mesmo que o poeta Renato Russo insista em repetir que “quem espera sempre alcança” – devo, infelizmente, apresentar protesto: esperar não tem nada a ver com alcançar. Quem faz, age, se esforça, luta, se aprimora, tenta, erra e tenta de novo, tenta mais ainda, tenta mais uma vez, esse sim pode até alcançar algo, porém esperar apenas é investir na decepção.
E esperar demais é contraproducente nesse mundo onde a virtude é sempre a maior surpresa.
Não obstante, em contrapartida, o ato defensivo de esperar pouco da vida e das pessoas também não resolve. Quem espera o pior é amargurado antes mesmo da amargura. É já contar com a derrota antes do jogo. É padecer por antecipação. É – desde cedo – requisitar infortúnio.
– Então, qual seria a solução? – pergunto ao meu mestre interior meio afeito a uma mudez recheada de significados ocultos.
– A solução é simplesmente não esperar. – responde ele rompendo o silêncio.
Na verdade, adoraria esperar apenas de mim. Adoraria esperar ter o melhor de mim, já que esperar do mundo é requerimento de frustração.