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O caçador de dragões

30 de maio, 2017 - por Max Franco

Se eu tivesse um empresa de marketing digital (ou fosse um caçador de dragões), qual história contaria para atrair mais clientes?

Eu conheci muita gente na vida. É que o meu ofício sempre me obrigou a viajar. Dragões estão espalhados em tantos lugares que não dá para esperar uma vida quieta e monótona. Acredito que já acumulei tanta milhagem que já daria para dar uma volta ao mundo. Tempo eu até teria para começar esta jornada (literalmente, do herói), mas o problema é a grana. Está mais difícil guardar grana no meu bolso do que manter político honesto no Brasil.
Eu comecei a perseguir dragões muito cedo. Na verdade, antes era calango com baladeira. Há quem chame de lagartixa e estilingue, mas lá no Ceará, falamos um português muito mais sofisticado.
Quando cresci, já sabia que seria exterminador de dragões. Sabe-se como esta praga pode ser nociva e pior do que ratos e baratas, sogras e cunhados. Sem querer demonizar, tanto assim, os dragões. Eles, afinal, não têm culpa de terem nascido com as suas peculiaridades. (Já sogras e cunhados…).
Quando abri a minha empresa, o negócio já não andava muito bem. Quem é empreendedor sabe de todos os problemas: a concorrência desleal, o preço do material de trabalho (armadura, lança, escudo, espada, lança…), a manutenção do cavalo e, lógico, a periculosidade dos dragões. Apelei, então, para todo tipo de publicidade conhecida. Espalhei outdoors nas aldeias, contratei trovadores para fazer merchandising e até acertei chamadas antes das execuções públicas. Mídias caríssimas, como todos sabem. Mas, nada estava dando grande resultado.
A crise que iniciou há três anos quase destrói de vez a empresa. Pensei até em apelar, fazer uber a cavalo, entrar numa cruzada, vender espetinhos depois das fogueiras da inquisição… tudo. Estava perto do desespero.
Até que, num dia estranho, me apareceu o Mago mais estranho ainda:
– Eu sei do que você precisa. – disse o velho. – Você tem que prospectar novos clientes.
– Não precisa ser mago para saber disso. – argumentei amuado.
– Mas, precisa ser sábio para saber como.
– Pois me diga, sábio!
– É só me pagar a consultoria, rapaz. Eu sou mago e não trouxa. Aceito em florins.
– Eu pago, mas me diga. O que devo fazer?
– Marketing digital, moço!
– Como é isso? Basta fazer postagens nas redes sociais, criar um blog…
– Isso é amadorismo! Você vai contratar uma empresa especializada para lhe fornecer o suporte necessário.
– Não preciso apenas aumentar as minhas visualizações?
– Não. Dá para perceber que você está mesmo precisando de ajuda. Quem pensa assim não poderia estar mais equivocado. Visualização é importante, mas o que uma empresa precisa é dos leads.
Leads? Não entendi.
– Claro que não. Você entende mesmo é de dragão. Por isso, você precisa de ajuda. Empresário tem de parar de pensar que entende de tudo. Me diga uma coisa: quem contrata o seu serviço?
– Reis, barões, duques, bispos, xerifes…
– Então, se você pudesse direcionar a sua publicidade para este público, não seria melhor?
– Claro. Muitas vezes, eu gasto uma grana divulgando para quem não tem interesse.
– Pronto! Essa é diferença entre visualizações e leads. O que você precisa é de gerar leads.
– Entendi. E como faço isso?
– A consultoria vai ficar mais cara…
– Se for compensador, vale a pena.
– Homem, você precisa de uma empresa para ajudar a otimizar a sua performance. Ela vai estudar o seu público, calcular métricas, elaborar estratégias e vai lhe orientar sobre criar “conteúdos”.
– Conteúdos de quê?
– De como se caça um dragão, claro! Há técnicas muito específicas no seu ofício, não? O que fazer enquanto o exterminador da peste não chega na aldeia? Quais cuidados você deve ter para evitar dragões? O que fazer depois que o dragão é exterminado? Há precauções a serem tomadas?
– Mas, isso não é entregar o jogo?
– Não. Isso é mostrar autoridade. É anunciar ao mercado que você entende do ramo. Que você é o profissional mais qualificado para zelar da segurança de uma aldeia ameaçada por esta praga. Você tem que demonstrar conhecimento. Aí, é o cliente que irá procurar a sua empresa e não o contrário. Ele vai acessar o seu site, vai fazer um cadastro pedindo mais informações e o terreno fica propício para o plantio. Entende?
– Nossa! Entendo! Você é um gênio!
– Na verdade, sou sábio, mago, xamã, mestre de ioga, nutrólogo e mentor. Ao seu dispor.
– Você não tem nenhum dragãozinho no seu quintal? Poderíamos fazer permuta…

– Eu já lhe disse que magos não são trouxas. Nunca assistiu a Harry Potter?