Então é isso: mais um ano sobe no telhado e outro se apresenta na calçada já tocando a campainha. É a qualidade maior do Tempo e o que faz melhor: ele passa. Por bem ou por mal, para melhor ou pior, à revelia de todos e de tudo, querendo ou não, ele passa.

E a Humanidade, ciente da impossibilidade de controlá-lo, tenta compartimentá-lo, classificá-lo, nomeá-lo, enumerá-lo, entretanto, vencê-lo tentativa das mais vãs. Nós é que somos seus súditos, pois é o tempo que vence tudo e todos.

Pois o Tempo passou está levando o moribundo 2023, mas vai nos trazer outro novinho. Ano novo é igual àquele caderno zerinho que a gente estreava na escola. No começo, a gente cuida, evita dobrar as páginas, não amassa, porém não demora para que descuidemos também deste. Logo-logo, ele estará enxovalhado no canto do quarto.

A verdade é que ano novo é mesmo parecido com caderno zerado. Anos e cadernos não escrevem nada, não trazem nada, não definem nada. Somos nós quem escrevemos e cuidamos, mal ou bem, mal e bem.

Não adianta, portanto, fazer mil promessas, saltar sete mil ondinhas, vestir branco, amarelo ou vermelho, propor duzentas resoluções de ano-novo se não escrevermos o melhor possível no tal caderno novinho. Ano não faz coisa alguma. Nós é que fazemos algo com o ano que se apresenta. Não determinamos tudo, é verdade, porque não controlamos tudo. Na verdade, mal controlamos a nós mesmos. Não definimos muitas das atuações alheias, nem as ações do Senhor Acaso. Porém escrever bem ergue bons textos e é o que nos resta fazer com as poucas linhas que o Tempo caprichosamente nos regala. Em 2024, há 366 páginas branquinhas para preenchermos da forma que quisermos, ou pudermos.

Talvez o que seja necessário é que sejamos tão novos quanto o ano que aparece no horizonte.

Então, quando virar o ano, cante e dance, abrace e beije aqueles que ama. Porque o Tempo é sempre o melhor presente que podemos ter.

Até que não o tenhamos mais. Logo-logo…

Pois escrevamos bem nosso ano. Que seja o texto mais belo e feliz.

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