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Os professores de Nárnia (ou o problema do EAD)
06 de março, 2018 - por Max Franco
Eu tenho dito nas minhas palestras e treinamentos a professores que acredito que tenhamos sido sistematicamente dopados nos últimos anos e – talvez, por causa disso – não tenhamos notado o que está acontecendo no mundo da educação. Aqui, educação com letra e minúscula realmente.
Todo mundo já ouviu falar de EAD. Particularmente, não só ouvi falar, mas também entrei na onda e montei um curso EAD de Storytelling que está hospedado no site da Inova Business School, porque, na verdade, acho um recurso bárbaro. O problema é o que estão fazendo com a ferramenta. O problema é a dose, e mais do que a dose, a intencionalidade.
Em virtude do lobby das mastodônticas empresas de educação, as leis em relação à aplicabilidade do EAD foram modificadas. Traduzindo em miúdos, escancararam as porteiras. Agora é lei da selva. Cada um faz o que quiser com poucas restrições. O resultado disso é uma busca desenfreada pelo EAD. Faculdades pouco expressivas em qualidade investiram pesado no recurso e montaram cursos completamente a distância. A fórmula é simples: o varejo da educação. Cursos a baixíssimos preços e com respaldos pedagógicos ainda menores.
O ensino superior a distância (EAD) já representa 26% da educação superior no País. E vai crescer ainda. Estudo realizado pela Sagah, empresa desenvolvedora de conteúdo e tecnologia para EAD, prevê que, em 2023, o ensino superior a distância corresponderá a 51% do mercado, algo em torno de 9 milhões de estudantes.
Há duas formas de se enxergar esse quadro:
Numa visão mais otimista, o EAD entraria como uma opção para aquele que não conseguiria pagar uma faculdade particular na modalidade presencial. Não há como negar que isso seria bastante positivo.
Numa visão, porém, mais pessimista (ou realista – infelizmente!), o EAD seria uma alternativa também para aquele que deseja cursar uma faculdade não só mais barata, mas também, menos exigente pedagogicamente. Em outras palavras, seria uma forma barata de “comprar” um diploma superior. Qual tipo de profissional o ensino superior entregará ao mercado, você já deve imaginar.
Veja só, caro professor: sabe no que isso vai dar? O uber da educação. E nós, somos, na maioria, os taxistas.
Esta metáfora dá panos para mangas, não dá?
Quero lembrar que os taxistas resistem muito mais do que nós.
Quero lembrar que os taxistas também são culpados pelo uber. Se todos fizessem o seu trabalho com preços acessíveis e qualidade, o uber não teria ganhado tanta força.
É o que ocorre na educação: pouca qualidade e preços nem sempre equivalentes à realidade nacional.
E sabe o que vai ocorrer, amigo? Eu lhe pergunto: se 50% da educação superior vai estar na mão do EAD, que tem uma capacidade enorme de trabalhar com volume e escala, você que é um professor “à moda antiga”, isto é, presencial, terá emprego?
Você já começou a se preocupar com isso? Você sabe como lidar com essas novidades? Sabe o que é ensino híbrido? Sabe gravar uma aula? Sabe lidar com tecnologia e plataformas de educação a distância? Tem um canal no youtube? Sabe o que é um designer instrucional? Sabe utilizar metodologias ativas nas suas aulas? Sabe como trabalhar com PBL ou storytelling, ou mapas conceituais, ou design thinking, ou gamification?
Se poucos professores vão resistir ao tsunami que está ali na costa, onde estará o seu barquinho? Você estará navegando ou naufragado em alguns anos?
– Que tal você sair de Nárnia e dar uma olhadinha na realidade para mudar a sua atitude?
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