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A era da consciência
10 de novembro, 2017 - por Max Franco
Viver nunca deve ter sido fácil. Ao menos, não, para a maioria das pessoas. Não estou seguro de que suecos o considerem tão desafiante assim. Mas, a Suécia é só um país e só a Suécia é a Suécia. O resto dessuecado da população mundial vive em condições bem diferentes.
Nos meus 47 anos de vida, nunca vivi uma época que não fosse de crise. Quando nasci, o Brasil estava em crise. Cresci em outras e acredito que morrerei em mais uma. Se o mundo é crítico, o Brasil é agudo, sempre.
Por isso, não saberia dizer se agora vivemos a nossa pior crise. Por outro lado, não sei para que serve eleger hierarquias de crises. Vamos entregar algum troféu?
No entanto, esta crise tem as suas peculiaridades. Uma delas: Não é só uma crise econômica, mas – principalmente – de valores. Tudo está sendo posto à prova. O que era certo ontem, é errado hoje e desconfio de que possa voltar a ser correto amanhã. O mundo não é líquido, como dizia Baumann. O mundo é gasoso, intangível e impreciso. Nada é, tudo está e esse “está” dura um piscar de olhos.
E é neste contexto confuso que me vejo mais confuso ainda no nevoeiro colorido da modernidade.
Para acirrar mais ainda a minha miopia ao tentar enxergar a atualidade, eu tenho uma grande dificuldade: eu sou homem. Sou homem, heterossexual, branco, classe média (cada dia menos), nordestino, oriundo de família católica, suburbano, vascaíno. Em suma, eu sou um clichê. Muito daquilo que eu pensava e julgava caiu por terra. As verdades caducaram. Outras apareceram em seus lugares e elas tem megafones.
Sendo o que sou, não poderia, sem dificuldades, deixar de sê-lo.
Eu fui criado com condicionantes externos, com práticas comuns, convivendo com uma cultura datada e localizada. Hoje, olho para trás e me arrependo de muito do que fui e do que fiz. Mas, mesmo querendo, não há como mudar o passado. Só hoje, infelizmente, eu tenho a nítida consciência de como agi e pensava. Só hoje, infelizmente, vejo o que devia ter feito e não fiz.
Trocando em miúdos. Eu sou machista?
– Claro que sou. Numa gradação de 0 a 10, devo ser 3. (Há quem veja 5,6 …) Não sei ao certo, mas sei que sou. Minha mãe também era. Não que eu a culpe. Não justifico, apenas contextualizo. Para a minha mãe, homem não entra na cozinha, não arruma a cama, não lava banheiro. Para ela, sempre haverá práticas permitidas aos homens, mas que são proibidas às mulheres. Fui criado assim. Eu e muitos. Para dizer a verdade, conheci muitos homens machistas. Mas também conheci mulheres.
Na minha adolescência, não havia pior palavrão do que ser chamado de “bicha”, a não ser que mexessem com a mãe. Bicha gerava bate-boca. Mexer com mãe, tapa no pé do ouvido.
Piadas? Fiz muitas. Pejorativas e maliciosas, outras, inocentes e despretensiosas. Hoje, entretanto, sei que podem ser constrangedoras e humilhantes. Porém, o “treino” durante décadas foi tão intenso que, ainda hoje, me flagro querendo repeti-las. É maldade? Não. É cultura. De tanto se fazer, vira hábito. Não é fácil de se perder hábitos.
Sinceramente, peço desculpas a quem ofendi. Se eu pudesse voltar no tempo, faria diferente. Se eu pudesse me encontrar comigo de anos atrás, eu teria uma conversa muito séria com aquele rapaz. Possivelmente, me daria uns safanões para reforçar os argumentos.
Peço desculpas por mim e pelos outros. Somos todos idiotas.
Hoje, porém, nada posso fazer pelo meu passado. Resta-me, portanto, aprender com ele e me tornar melhor do que eu fui. Espero, também, como pai e educador, diariamente, difundir e defender a cultura do respeito e da igualdade. Hoje, cônscio , trabalho para conscientizar. Não é justo que velhos vícios e padrões venham aterrorizar quem quer que seja. Já foi demasiado tempo de tirania e agressão. Há de se mudar.
A ofensa ofende também o ofensor.
A ofensa ofende todo mundo.
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