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As dívidas da vida dividida

15 de junho, 2017 - por Max Franco

Tudo é tão estranho nestes dias noturnos.
O mundo indo muito bem nessa vibe de ser louco e eu tentando manter algum departamento da minha frágil sanidade ainda intocada.
Há dias nos quais acho que até consigo.
Noutros, me resigno.
O fato é que o mundo é a pior peça que já foi encenada, muito mais pelo elenco do que pelas instalações.
Hoje, sei disso e de muitos dessabores, dessaberes, desabonos.
Sei – também – que perdi amigos que nunca tive para encontrá-los onde menos esperava. Acumulei perdas, perdi ganhos, extraviei coisas as quais tanto amava que nem sei como vivo sem.
Sonho com as coisas e choro por elas todos os dias. Choro as piores lágrimas. Não aquelas que encharcam travesseiros, mas alma.
Então, da minha alma afogada escoam não-sei-quantas palavras. Palavras diárias, fortuitas, gratuitas.

Enquanto a maioria chora líquido, eu derramo vocábulos.
E vocábulos, como todos sabem,  não servem para exatamente nada. Não acessam ninguém. Não entram nas casas. Ficam sempre nas calçadas. Sempre do lado de fora dos portões das importâncias.
É que nada importa a não ser o acaso, o ocaso e o assunto.
A vida inunda.
A vida imensa.
Não sei de nada sobre quase tudo.
Sei de tudo sobre nada quase.
Sou, de tudo, a sobra e a soma. Sobrevivi o tanto que vivi. Mas, vivi também. Vivi tantas vidas. Morri tantas mortes. Vivi tantas vezes que as mortes só doeram. Vivi e morri aqui e acolá. Acolamente lá e cá. Sozinho e desacompanhado. Acompanhadamente solitário. Solitariamente ao lado. Lado a lado.
Mas, resvalei, escorreguei, caí, desabei sem glórias, desgraçadamente. Feri e me feri ferimentos tão letais que nem sei como escapei menos são do que salvo.
Por enquanto, o meu endereço: mansão dos mortos, número 19.
Quisera ressuscitar.
Mas, ressurreição, única opção, decerto é para poucos.
Se viver dói mais do que morrer, reviver deve matar de dor.