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O medo nosso de cada dia
01 de julho, 2018 - por Max Franco
Cá me encontro, mais uma vez, buscando garimpar algum sentido nesta vida que, a cada dia que passa, parece menos ter algum.
Ando resoluto e ciente de que a busca, essa busca incessante de sentidos que inicia no berço e segue até o leito (ou, os leitos), não passa de desejo de segurança motivado por um medo avassalador maior do que nós mesmos. A questão é que Medo é troço mutante, plural e multicor.
Medo é coisa de quem está vivo e são. Afinal, só mortos e loucos não têm medo. E pouca coisa é menos humana do que o medo. O menor dos bichos – decerto – têm menos medo do que o maior e mais forte dos seres humano. Como sabemos, se é homem, tem medo. Se for mulher, tem menos, mas também tem.
Há o Medo de perder os pais, de se perder dos pais, de perder os filhos, de ver os filhos perdidos. Medo da rua.
Medo da rua de noite. Medo da noite na rua. Medo da meia-noite e Medo da noite e meia.
Medo do sonho. Medo do sono. Medo da dor. Medo da doença. Medo da morte. Medo da vida. Medo do bicho, da besta e da fera. Medo do velho e medo do novo.
Medo de alma. Medo da alma. Medo desalmado.
Medo do desemprego, do vexame e da vergonha. Medo do trabalho. Medo da lembrança e medo do esquecimento. Medo do mesmo e do outro. E – claro – há o medo do vírus e do verme.
Mas, é o medo do caos provoca esse ímpeto diário de desejar organizar as prateleiras da nossa vida, colocando os badulaques num escaninho qualquer, pondo cada coisa nos “seus lugares”, sabendo que não há lugares para as coisas a não ser aqueles que a gente elege para elas.
Buscar sentido é o que o desnorteado faz ao procurar um norte. E é ter nas mãos um gps qualquer no meio no meio de uma selva sem sinal ou wifi. É que só procura o caminho quem não o tem. Só pergunta a direção quem não sabe.
Eu não sei.
Eu sou o perdido-mor. O extraviado pelo caminho. O tal cego no tiroteio.
Por isso, busco.
Acordo e busco.
Como e busco.
Durmo e busco.
Busco e busco.
E no afã da busca, tanta vez, me encanto e encontro.
Em outras vezes, me perco e canto.
Este é mais um destes cantos, medrosos e desencontrados.
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