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Tempos de conjugação
18 de agosto, 2016 - por Max Franco
Era.
Fui.
Sou.
Serei.
Seria?
Permanecer vivo traz vantagens.
Decerto.
A alternativa não deve trazer muita.
Porém, sobreviver traz também a sua dose de efeitos colaterais.
Um deles é a saudade. Nessas épocas de olimpíadas, por exemplo, meu pai me falta. Eu adoro esporte. Esporte é drama com hora marcada. É história verídica, transmitida ao vivo. Como não gostar de coisa semelhante?
Meu pai também curtia aos montes. Me faz uma falta danada não discutir com ele as suas teimas. Não debater os resultados. Não rir da sua forma de dizer que “não iríamos nos dar bem” torcendo aos montes para ganharmos. É que meu pai era do contra, por fora. Às vezes, num lance a favor, dava para flagrar a sua emoção, a torcida pela amarelinha. Ninguém nega essência, só aparência.
Há esse tipo de falta, e outros. Gente que não está mais aqui faz falta. E, pior, sei que a tendência é que esse sentimento só aumente. Afinal, só há duas opções: ou sentirei saudade, ou sentirão – alguns poucos – de mim. Não obstante, o que me causa mais falta atualmente é gente viva. É que distância é o troço gerador de saudade por excelência.
Há, no caso, duas distâncias: a distância dos quilômetros, a qual avião resolve, e a distância do tempo. A mais grave de todas.
Há sempre aquelas pessoas que, mesmo depois de anos sem as ver, na oportunidade da visão e do contato, parece que as vimos ontem. É aquele tipo de gente de casa mesmo longe de casa. Gente sem protocolo. Gente pé descalço, em cima da mesa de centro da sala. Gente que abre a geladeira e abre a cerveja. Outras, infelizmente, se perderam no tempo. Equivocaram-se de estrada. Ficaram lá atrás em alguma esquina pretérita. A intimidade se extraviou com o passar dos anos. Dá até vontade de dizer:
Eu sinto muita falta de você. Mas eu estou aqui.
Está nada. Você ficou anos atrás.
Não sei se foi o cara que ficou, ou a visão que nutria dele, ou, ainda, eu que fiquei. Mas, que alguém ficou, ficou. Algo estacionou no passado, empacou e não tem mais jeito de se mover.
É uma pena!
Estava cismando hoje que havia outros seres vivos que me dão esse naipe saudade e que nem são íntimos. O Chico Buarque, por exemplo, me causa uma saudade imensa. O Chico, Milton, Beto Guedes, Caetano, Gil, Djavan, Belchior, Fagner, Maria Betânia, Gal, Simone, Marina, Zizi Possi, Titãs, Capital, Paralamas… Esse povo me mata de saudade. Faz anos que não os reconheço ou os vejo fazendo algo da medida deles. Dá até vontade de sequestrar o Belchior, caso fosse realmente possível encontrá-lo sobre a Terra, e só soltá-lo depois que ele entregasse uma música. Não uma musiquinha qualquer, dessas que tocam na rádio o tempo todo, mas música com M maiúsculo, como ele costumava fazer. Como muito costumavam fazer. Quer produções boas, meu amigo? Sequestre seu artista favorito.
Enquanto, a maioria do mundo faz apologia a evolução, eu rezaria pela involução. Para o retorno. Para a volta.
Ah, como seria bom – em alguns casos – poder voltar no tempo! Não por motivo nostálgico, mas funcional. Como teria efeito lenitivo voltar no tempo e lhe prestar alguns conselhos, os quais, no futuro, lhes seriam tão úteis.
Como seria bom me sentar com o velho, ao menos, para uma partida e sair defumado de tanto que ele fumava. Eu aguentaria – de bom grado – até a sua fumaça e o seu mau humor fantasiado.
Como seria bom conviver novamente com os amigos do passado e, quem sabe, interferir de alguma forma para que estes não continuassem morando lá.
Pena que não dá para rebobinar a fita VHS das nossas vidas. Nós somos seres condenados ao presente. O futuro, uma quimera, uma hipótese. O passado, um jugo ou uma glória. Nada a fazer para maquiá-lo. Ele existe com seus méritos e deméritos, não adianta tentar negá-lo. Cometi coisas boas e ruins, mas preferiria ter feito só as melhores. Fiz pessoas felizes e tristes. Fui triste e feliz. É que na vida real, tudo funciona diferente.
– Mas, vamos acabar com essa coisa de cevar passado e olhar para frente. E o frente é o hoje no próximo minuto, no instante seguinte.
Pensando bem, acho que vou escutar aqui algo velho.
Afinal, tudo que é bom é eterno.
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