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Vincent
23 de fevereiro, 2017 - por Max Franco
“Vincent começou a trabalhar cedo, tal como ele. Com 15 anos de idade trabalhava para um comerciante de arte da cidade de Haia e com quase vinte anos, foi morar em Londres como marchand . Foi aí que houve o primeiro registro de problemas emocionais. Há quem afirme que Van Gogh tenha abandonado Londres depois de uma crise nervosa provocada por ter sido rejeitado pela filha da dona da pensão onde morava. São sempre as mulheres! Pensou Flávio. Vincent resolveu, então, estudar Teologia, na cidade de Amsterdam. Não havia sequer acabado o curso quando passou a atuar como missionário no sul da Bélgica. O jovem ficou impressionado com a miséria e com as grandes dificuldades encontradas no desumano ofício dos mineiros da cidade. Foi aí que elaborou vários desenhos a lápis e seu primeiro quadro: Os comedores de batatas . Não obstante, mais um dos seus planos foi por água abaixo. A direção da igreja não compartilhava com suas preocupações sociais e seculares. Ele não servia para a vida religiosa e decidiu retornar para a cidade de Haia, passando a se dedicar à pintura. Foi posteriormente morar em Paris, com seu irmão, Theo, onde conheceu importantes pintores da época como Toulouse-Lautrec, Gauguin e Degas, adeptos ao impressionismo e, dos quais, recebeu grande influência. Depois de Paris, onde se tornou um inveterado apreciador de absinto, parte para a cidade de Arles, no sul da França. Uma região rica em paisagens rurais e bucólicas. Van Gogh estava otimista nessa fase e queria uma vida nova próximo à natureza. Lá, fez o único quadro que conseguiu vender durante toda sua vida: A Vinha Encarnada, e convidou Gauguin para morar com ele, o insólito que aceitou sua idéia de fundar uma comunidade de artistas naquela região. Objetivo que nunca foi alcançado. No início, a relação entre os dois era até razoável, porém com o tempo, a situação fugiu do controle, resultando com o retorno de Gauguin à Paris, com Van Gogh em profunda depressão e sem uma parte da orelha. No ano de 1889, sua doença ficou tão grave que teve que ser internado numa clínica psiquiátrica. Van Gogh foi um tipo derrotado pela vida , avaliou Flávio. Foi rejeitado por inúmeras mulheres. A única que o aceitou, além da prostituta grávida que viveu com ele em Haia, foi uma moça em Nuenen. Eles tinham até decidido pelo casamento, mas as famílias não conseguiram se acertar sobre o matrimônio provocando uma dramática tentativa de suicídio da garota. Nada do que ele fazia dava certo, a não ser na qualidade da sua pintura ousada, surpreendente e inovadora. Vincent começou tardiamente a pintar, mas mesmo assim pintou mais de oitocentos quadros em apenas dez anos e setenta quadros nos seus setenta últimos dias de vida. Um fenômeno impressionante! Mesmo assim, a sua obra só foi ser valorizada após a sua morte. Na verdade, nem para se matar, Vincent teve competência. Há biógrafos que afirmam que suas últimas palavras para o irmão no seu leito de morte foram “a tristeza durará para sempre?” Hoje qualquer quadro do pobre miserável obtém facilmente algumas dezenas de milhões de dólares. Uma verdadeira ironia combinada pelos deuses, concluiu Flávio, ao recordar que o maltratado pintor morrera na penúria e que, com a parca mesada que seu irmão Theo lhe consignava, chegava a deixar de comprar comida para adquirir tintas.”
FRAGMENTO DO O CONFESSOR, LANÇADO EM 2008.
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