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Ben-Hur é do bem mas não é bom
26 de agosto, 2016 - por Max Franco
A falta de bons roteiros em Hollywood deve ter chegado ao seu limite e a prova disso é o novo Ben Hur. Mais uma vez, entre o velho e novo, prefira o nascido em 1959. Não faz mal conferir a produção atual, mas sugiro que vá na semana, no dia da promoção, pague meia, evite filas, não compre a pipoca. O filme não vale grande investimento.
Na verdade, nem deus, nem Jesus, nem Santoro, nem mesmo Morgan Freeman salvam este Ben-Hur do fiasco.
Os produtores são realistas e andam admitindo que “não é um remake, mas, sim, uma releitura”. Esquecem de dizer que é uma péssima releitura. Pessoalmente, me agradaria manter uma conversinha com o cidadão que conseguiu mutilar de tal forma um bom roteiro de cinema e estragar um dos filmes campeões de oscar, ganhando 11, numa época onde inexistiam diversas categorias técnicas que hoje vigoram. Uma façanha só igualada décadas depois com”Titanic” (1997) e “O senhor dos anéis – O retorno do rei” (2003).
Ben-Hur adapta o romance “Ben-Hur: A tale of the Christ”, escrito por Lew Wallace em 1880.
Há poucas justificativas para você gastar o ingresso, mas se eu fosse um cara generoso, citaria as sequências da batalha naval e, logicamente, da corrida de bigas. São as melhores partes do filme. Tirando esses espasmos de competência, além do ritmo menos lento (são 124 minutos contra 212 minutos do anterior), do discurso menos teatral e solene, e das cenas mais curtas e realistas, os 100 milhões de dólares gastos nesse filme poderiam ter sido usados em tarefa mais nobre.
O outro grande desperdício, além da grana, foi o Morgan Freeman. Ninguém deveria usar o nome do Morgan Freeman em vão. É mais do que pecado, é blasfêmia. O astro americano, que faz o papel de mentor do protagonista, o Sheik Liderim, teve uma participação esticada nessa versão. No original, era uma ponta. Talvez tenha sido para justificar os gastos com a sua contratação, mas, não convence muito. Santoro, por sua vez, tem poucas aparições e, talvez por isso, não tenha saído com a imagem tão chamuscada. Não vejo também que tenha sido grande vantagem.
O leitor deste comentário vai achar que sou contra a sua ida ao cinema. Não sou. Se você for bem acompanhado, principalmente. Sugiro, apenas, que não carregue demais a sua maquininha de expectativas. Talvez por causa do Santoro no papel de Jesus e da grife Ben-Hur, um do épicos mais clássicos do cinema, as pessoas ficaram ansiosas, em demasia, pelo filme. Um filme que mais parece uma homilia em nome da tolerância e do perdão cristão do que uma adaptação de um livro. A prova disso é a – inexplicável – fuga da história original. Afinal, não há razão para se suprimir, como foi feito, a figura do cônsul romano Quinto Arrio, que, na história original, após ser salvo por Judah Ben-Hur, na batalha contra os piratas no Mar Jônico, irá adotá-lo como filho. O motivo que fez com que a família de Ben-Hur caísse em desgraça com os romanos também não tem absolutamente nada a ver com o livro. E, para citar a maior transgressão do filme atual, o inverídico final: a palavra clichê nunca caiu tão bem ao lado do adjetivo “meloso”.
Por fim, volto a aconselhar: se quiser ir ao cinema para conferir Ben-Hur, vá. Sem problemas. Mas não deixe de assistir ao clássico com o inexorável Charlton Heston. E, de quebra, também não faria mal algum ler o livro de Lew Wallace. Quem sabe, aí você se empolga e entra, de vez, no mundo dos épicos de Hollywood e assiste Quo Vadis, Cleópatra, Sansão e Dalila, O manto sagrado, Salomé, Spartacus, El Cid…
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