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Victus
04 de junho, 2016 - por Max Franco
Os livros estão diferentes.
Na verdade, eu diria que as narrativas, quaisquer que sejam, estão diferentes.
Antigamente, uma história era contada com velocidade menor, a rotação do LP era mais lenta. Hoje, o “problema” (ou complicação) é apresentado – sem grandes protocolos – logo nas primeiras páginas. O leitor moderno, decerto influenciado pela linguagem vertiginosa da Tv, não tem mais paciência para acompanhar uma apresentação quase cerimoniosa de todos os personagens, além de localizá-los adequadamente no tempo e no espaço. Nos relatos atuais, tudo é meio video-clip, tudo é mais acelerado e ocorre meio de uma vez, em arroubos fugindo da cronologia convencional ou de alguma linearidade objetiva.
Mesmo acostumado, com um ritmo mais lento – devo confessar – que aprecio o compasso moderno. Um andamento mais intuitivo, caótico, explosivo, mas que consegue, desde de tenras páginas, sequestrar a atenção do leitor. Em outras palavras, a Literatura moderna tem uma pegada mais violenta. Ela chega logo ao ponto, sem embromações, sem muitas preliminares. É uma Literatura que lhe puxa pelos cabelos.
“Victus, a queda de Barcelona” funciona deste jeito. A obra de autoria do espanhol Albert Sanchez Pinol lhe arrebata já nas primeiras linhas. O discurso é acido beirando a crueldade. É engraçado e trágico. Cômico e doloroso. Como o autor conseguiu reunir elementos tão opostos? Só lendo para descobrir.
Victus é um romance histórico que trata daquela que, talvez, tenha sido a primeiro conflito com envergadura “mundial”, a guerra da sucessão espanhola, que acabou com o fim do cerco e a tomada de Barcelona, no dia 11 de setembro de 1714.
Martí Zurivia é o nosso herói e, também, narrador dessa história. Já velho – um velho cáustico, eu diria – ele relata as suas memórias para uma pobre redatora, constantemente achincalhada pelo protagonista.
Martí era engenheiro, mas não um engenheiro qualquer, mas um engenheiro bélico. Especializado em manter e romper cercos. No embate, ele se vê dividido entre suas lealdades e as chances de sucesso. Lutando seja por um lado, seja por outro, as suas escolhas vão determinar a sua sorte e a daqueles que participam da contenda.
Com um esmero histórico acompanhado por um discurso delicioso e instigante, Victus nos leva através de cidades e vilarejos do século XVIII, recriando batalhas épicas, até o cerco final à cidade catalã, que resiste heroicamente, durante treze meses a um assédio sem paralelos até então.
O romance, sucesso de crítica de público, além de ser um livro apaixonante, é também um prodígio no campo histórico e literário.
Recomendo bastante.
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