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O manual de conduta e o storytelling
10 de janeiro, 2017 - por Max Franco
– Bom dia, gente! Tudo bem? Hoje, quero fazer algo diferente na nossa reunião mensal. – começou André Belisário, executivo da SDF Empreendimentos e Diretor da sua área há 6 anos.
– Vai ser na praia? – perguntou Giovanni, o engraçado do grupo. – Seria uma boa. Ainda mais com este clima.
– Prefiro chopp – opinou Leandro.
-Por que não praia e chopp? Não nasceram um para o outro? – gracejou Joana.
– Prefiro apenas que seja breve. – retorquiu Armando, sempre lacônico. – Não suporto perder horas da minha vida discutindo o manual de conduta.
– Não será nem uma coisa nem outra. – rebateu André sem perder o sorriso. – Será apenas diferente.
– Veremos… – alfinetou Armando.
– Para começar, não trataremos do manual de conduta, nada de metas, nada de dados nem de gráficos. Desta vez, as informações seguirão para consulta apenas por email. Na verdade, hoje quero contar uma história. Não se preocupem que não será para dormir, ou pior, para amedrontar. É uma história curta e simples, mas que – espero – traga uma reflexão muito relevante para o grupo.
– Estou curiosa. – disse Joana se ajeitando na cadeira. – Sobre o quê?
– Sobre um profissional quase perfeito. Um médico que sempre se atrasava. Dr. Manfredo era o seu nome. Era um sujeito gabaritado. Testado pelos anos e profundo conhecedor do seu ofício. Era excelente marido e um pai zeloso de três crianças felizes e saudáveis. Não obstante, ele tinha um defeito: Dr. Manfredo não era muito afeito a respeitar horários. Não era maldade ou preguiça. Era apenas acomodação. Dr. Manfredo sabia das suas qualidades como médico, qual era o problema de cultivar um ou outro defeitinho? Até que um dia, ele descobriu qual era o problema.
– Sempre há uma conta a pagar. – comentou Giovanni, agora sério.
– Sempre. Não há consequências sem causas. Elas sempre vem, de uma forma ou de outra. E foi isso que ocorreu ao nosso competente doutor. Ele recebeu um chamado urgente do hospital onde deveria estar de plantão. Ele estava atrasado, como era do costume. Entretanto, desta vez, havia algo de estranho na voz da enfermeira. Um tom de urgência que geralmente não residia na sua forma de falar. Ele perguntou o que estava acontecendo e mais uma vez percebeu hesitação da outra. Foi aí que a sua máquina de cismar deu um salto, um manto suor frio desceu sobre o seu corpo e o seu coração acelerou quase da mesma maneira que fez com o seu carro. Dr. Manfredo desconfiou de que algo grave tinha acontecido. Talvez de muito grave. No entanto, nada poderia prepará-lo para o que iria ver naquele hospital.
– Diga logo, homem, que estou já com taquicardia. – disse Joana angustiada.
– Os filhos do Dr.Manfredo costumavam ir à escola de transporte escolar…
– Não pode ser… – interrompeu Armando.
– Um caminhão atravessou o sinal vermelho e o acertou a van em cheio. O mais velho estava entre a vida e a morte. Os outros, muito machucados. Dr.Manfredo estava às portas do desespero, mas sabia que tinha que manter o controle para realizar com eficácia todos os procedimentos. O problema era o tempo. O tempo, sempre ele, o juiz de tudo. Tempo que, naquele caso, definiu a sobrevivência do garoto. Na verdade, infelizmente, definiu a não sobrevivência… Dr.Manfredo, mesmo anos depois, muitos anos depois, jamais se perdoou pelo seu atraso. Dizem, por sinal, que nunca mais chegou atrasado em qualquer compromisso. Infelizmente, a lição também chegou tarde para o seu primogênito.
– Pontualidade é questão fundamental, não é isso, André? – perguntou Giovanni muito sério.
– Não adianta se queixar depois. – falou Armando.
– Entendemos o recado, André. Muito obrigado pela reflexão. Precisamos acertar os nossos relógios. – finalizou Joana.
> A história funciona sempre mais do que qualquer manual corporativo de conduta.
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