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Peruando

07 de janeiro, 2024 - por Max Franco

Já declarei mais de uma vez que “aprender” conjuga com o verbo “arrepender”. Em suma, todo aprendizado é um arrependimento. Você pensava que algo era de um jeito, descobre que não é, se arrepende e aprende. De maneira geral, a sabedoria é uma ignorância arrependida.

Pois eu me arrependi na vida de várias coisas. Me arrependi, por exemplo, de gastar dinheiro com algumas coisas e, em especial, com pessoas. A Vida nos ensina que certas coisas e pessoas são superestimadas. Entretanto, jamais me arrependi de gastar dinheiro com viagens. Algumas dão mais retorno. Outras entregam menos. Porém, viajar sempre é um empreendimento vantajoso.
Trato disso justamente retornando de mais uma viagem. Passei uma semana no Peru. Um destino que paquero faz décadas.
Agora, dentro do avião, retornando para casa, em São Paulo, faço alguma avaliação das experiências recentemente realizadas. E mais uma vez digo: valeu o investimento.
Na verdade, só pela luxuosa companhia da minha companheira, @Rebecapinto, já valeria viajar para qualquer destino. Não obstante, o Peru realmente é um lugar que merece ser colocado nos rankings de quaisquer departamentos de desejos.
O Peru, afinal, reúne Cultura, História, Gastronomia e experiências turísticas de grande envergadura.
Ter a condição, por exemplo, de ver os resquícios do Império Inca e entender a pujança daquilo que aquele povo foi capaz de erguer e fazer é um grande privilégio.
Machu Picchu não é tudo aquilo que dizem que é. A verdade é que é muito mais! É muita história incrustada em um lugar de beleza estonteante. Bastaria a paisagem para qualquer sujeito se emocionar, mas ainda há toda a (estupenda!) História…
É uma pena, contudo, observar a destruição que os colonizadores espanhóis sujeitaram aos incas. Imaginem se o mundo atual pudesse desfrutar da sua Cultura em toda a sua plenitude? Mas essa é a velha história da América Latina: colonizadores que não respeitaram nada e que vieram apenas para arrancar as riquezas de povos que, poderiam ser mais avançados do que os seus conquistadores em diversas áreas, porém não tinham nem pólvora nem a sagacidade para expulsar os exploradores que iriam subordiná-los.
O fim dessa história conhecemos bem: os europeus trouxeram espelhos, quinquilharias, doenças, religiões, armas e estratégias que provocaram o maior genocídio já visto na humanidade.
Os efeitos dessa política de submissão e exploração saltam aos olhos nos países que sofreram essa chaga. No Peru, são bastante visíveis, porque, apesar de todas as suas riquezas, inclusive turísticas, o povo peruano é, na sua grande maioria, muito pobre. O que é estranho, porque, os turistas pagam caro (bastante!) por cada experiência local. Para onde vai toda essa grana? Os preços são europeus, os serviços são precários, mas as atrações são de outro mundo. Sinceramente, preciso reconhecer que poucas vezes tive diante de mim paisagens tão deslumbrantes quanto as que contemplei no Peru. E devo dizer que cenários encantadores não me faltaram.
O que falta, então, para a máquina do turismo girar melhor e gerar riquezas para todos os atores envolvidos nesse trade: profissionalização, a qual só pode ser alcançada com políticas públicas e parcerias privadas. Na verdade, muita coisa precisa ser otimizada: serviços, estruturas, educação, sinalização, segurança, acessibilidade e organização. Todavia, mesmo com tais lacunas, as atrações dos lugares são tão robustas e ricas que o turista quase se esquece de que está pagando caro por um serviço que deixa a desejar. Quase!
Em especial, me chamou a atenção como os descendentes do antigos incas encaram a religião, fazendo um sincretismo entre as tradicionais deidades locais e o catolicismo, sem uma atrapalhar a outra, mais ou menos como muitos no Brasil, em especial na Bahia, lidam com as crenças oriundas da África.
Outro fenômeno que me despertou interesse foi a preocupação de diversos peruanos com o risco da aculturação ou da perda das suas tradições, da sua língua, o quéchua, e dos seus costumes.
Não foram poucos que relataram essa preocupação.
Sobre a Gastronomia, de fato, no Peru, esse é território que está sendo, cada vez mais, explorado e com motivo, porque a culinária local é muito rica, variada e condimentada. Rebeca afirma que é uma das melhores do mundo mesmo. Eu ainda fico com a culinária nordestina (se possível da minha mãe!); em segundo lugar, a portuguesa; em terceiro, a mineira; em quarto, a italiana; em quinto, a espanhola; em sexto, churrascos de qualquer localidade de Curitiba para baixo e, em sétimo, aí sim, a peruana.
Por fim, volto para casa trazendo mais um lugar na minha mente e coração, tendo aprendido mais e me arrependido mais de toda ignorância que ainda vigora nesse grande, imenso, planeta.