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A qualidade só é reconhecida pela qualidade
30 de setembro, 2023 - por Max Franco
Não é apenas sobre o trabalho que você faz, mas sobre onde você desempenha o seu trabalho. Sempre depende do público. Sempre depende do “com quem” ou o “para quem”.
A qualidade existe para quem é capaz de apreciá-la.
Cabe então a reflexão:
-Você faz um trabalho consistente?
-Você avalia que desempenha suas atividades profissionais de modo caprichado?
-Como seus pares e clientes observam a sua perfomance? Quais feedbacks você recebe?
-De que maneira seus líderes apreciam o seu trabalho? O que eles lhes dizem?
Você vai concluir que a questão atrai quatro visões diferentes:
- Você não faz um bom trabalho e o seu público enxerga esse fraco desempenho;
- Você não faz um trabalho apurado, mas seu grupo não identifica essa debilidade;
- Você desempenha um trabalho bem-feito e o seu grupo o observa;
- Você atua bem profissionalmente, mas poucos o reconhecem.
Antes de tudo, seria desnecessário dizê-lo, mas vale ressaltar que, por melhor que exerçamos as nossas funções, sempre podemos e devemos aprimorá-lo. A questão, porém, é simples: de onde partimos!
A verdade é que se você considera que o seu trabalho é bem desempenhado, se você recebe bons feedbacks de pares e clientes, contudo, mesmo assim, seus líderes não percebem o valor da sua atuação, o ideal é que você busque outro terreno para depositar as suas sementes. Vale a pena insistir, é claro! Todavia, há limites para essa insistência, sob o risco de continuar “atirando pérolas aos porcos”. Em outras palavras, sempre é oportuno se evitar desperdícios de capacidade.
Afinal, é sempre bom lembrar que a qualidade está nos fatos, mas também, nos olhos de quem vê. É preciso de certa inteligência para reconhecer a inteligência de outrem. É preciso sensibilidade e alguma humildade para se dar conta da beleza alheia. Se observarmos por essa ótica, o bom texto é também um elogio ao leitor; a bela música, uma homenagem ao ouvinte; o filme inesquecível, uma ode ao espectador que consegue entendê-lo.
Um oportuno exemplo dessa condição pode ser verificado em uma experiência realizada pelo jornal Washington Post:
– Em pleno horário de rush no metrô de Washington, alguns dias depois de tocar no Symphony Hall de Boston, com ingressos a US$ 1 mil, o famoso violinista Joshua Bell se apresentou por 45 minutos, executando obras clássicas com um raríssimo Stradivarius de 1713, cujo valor é estimado em US$ 3 milhões. Não obstante, ninguém se deu conta de que estava diante de um dos maiores músicos do planeta. O objetivo da experiência, segundo o jornal, era lançar um debate sobre valor, contexto e arte entre os americanos.
Vale dizer que Bell sempre se apresenta com o mesmo instrumento, que foi feito à mão, em 1713, por Antonio Stradivari, durante o “período de ouro” do mestre italiano. Foi nessa fase que Stradivari teve acesso aos melhores cortes de madeira de espruce, bordo e salgueiro, e quando sua técnica foi levada à perfeição.
Às 7h51 do dia 12 de janeiro, na estação L’Enfant Plaza, centro da capital federal, o artista iniciou seu recital de seis melodias de diversos compositores clássicos diante de dezenas de passantes. O objetivo do jornal era descobrir se a beleza seria capaz de chamar a atenção num contexto banal e num momento inadequado.
Bell, vestido de calça jeans, camisa de manga comprida e boné, tocou seu Stradivarius para mais de mil pessoas que passaram a poucos metros de distância durante a sua apresentação. Ao longo dos 43 minutos em que tocou, o violinista arrecadou US$ 32,17, valor bem abaixo dos US$ 100 que os fãs pagaram três dias antes por assentos no Boston Symphony Hall, que na ocasião teve lotação esgotada.
Joshua Bell só foi reconhecido por um transeunte.
Muitos têm ouvidos para ouvir, mas poucos para escutar.
Caso algo parecido esteja ocorrendo com você, meu caro, talvez seja o caso de você buscar outra estação.
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