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DNA de empreendedor

20 de junho, 2017 - por Max Franco

 

Era um dia de sol como muitos dias de sol na capital cearense.
Afinal, há quem goste e quem desgoste de lugares, mas ninguém pode acusar o astro-rei de ausências quando este lugar é o Ceará. Talvez, o sol aprecie os nossos “verdes mares bravios”, como versou José de Alencar.
Pois era um dia de sol e eu estava na praia. Porque achava que merecia, busquei o meu lugar à sombra, mas como odeio clichês, recusei a água fresca. Preferi, em vez, a cerveja gelada.
A cerveja veio como comandada e, depois dela, o peixe frito. A música era das boas e a companhia, melhor.
Não estava enumerando reclamações, até que um sujeito me abordou.
– Salada de frutas, moço?
– Desculpa, não desejo. Não combina com a cerveja, não é?
– Mas, depois do peixe, combina. – respondeu matreiro.
Talvez, por causa do meu ar cético, ele emendou:
– A minha barraca de frutas é aquela, moço! – disse ele apontando. – “Chico das frutas”. Aquela mesma! Eu me levanto todos os dias às quatro da manhã e vou para a Ceasa. Escolho, então, frutas frescas e novinhas. Pego o gelo e trago tudo para a praia. Eu chego cedo aqui e vou logo arrumando a barraca. A minha diferença é que eu faço tudo na frente do cliente. Lavo as frutas, corto com luvas de plástico e descartáveis. Você escolhe as frutas, eu as descasco, corto e faço tudo na sua frente.
– O senhor sabe convencer o cliente. Parabéns! Belo trabalho!
– Sabe o que acontece, moço?! – disse ele abaixando o tom de voz. – Há tanta gente trabalhando mal, há tanto picareta por aí, que resta fazer as coisas muito bem para ganhar a confiança das pessoas. Essa é a palavra que muda tudo: confiança!
– Pois me traga esta salada de R$ 10,00, “seu” Chico!
– O senhor não deseja ver o preparo?
– Não. Basta me trazer. O senhor ganhou a palavra que muda tudo! Você contou tão bem a sua história que me convenceu da qualidade do seu produto. Agora, não me decepcione, seu Chico. Me traga uma excelente salada.
– Depois de alguns minutos, o homem volta com a salada e com o seu melhor sorriso.
– Sabe o que foi que o senhor fez? – pergunto a ele. – Sabe que o senhor usou uma técnica maravilhosa de convencimento comigo e com todos os seus clientes desta praia?
– Não. – disse o vendedor surpreso. – Qual técnica?
– Chama-se “Storytelling”! É a arte de entreter, conquistar, convencer as pessoas através de uma boa história. Você fez isso. Contou a história do seu produto tão bem quanto é bom o seu produto. Não adianta, por sinal, um sem o outro.
– Estorioquê? Eu nem sei dizer esse nome, moço! – disse o homem rindo um riso aberto.
– Não importa o nome. Importa a qualidade do produto e saber contar bem a sua história. Continue assim e, tenho certeza, nunca lhe faltará clientela. Eu dedico a minha vida a ensinar como se faz isso e o senhor parece que já nasceu sabendo. Acho que vou acabar contratando o senhor.
– Para contar histórias ou fazer saladas de frutas?
– A sua salada é tão boa, seu Chico, que vou acabar contratando para os dois serviços.
– Eu sou cearense, moço! – disse ele e saiu contando o seu dinheiro suado.

Para ele, não precisava de mais explicação, e ele deve estar certo, pensei. O cearense sempre precisa de tanto improviso para sobreviver, precisa de saber lidar com tanta dificuldade, que só com muita tenacidade, teimosia e também lábia para superar os desafios de uma vida inteira. Como sabemos, e outro grande escritor, Euclides da Cunha, declarou: o nordestino é, antes de tudo, um forte.
E a força, é claro, está na fé, no trabalho, na coragem e na palavra.
Que não lhe faltem, seu Chico das frutas.
Nem à senhora, dona Maria das redes.
Também não ao senhor, seu Raimundo dos queijos.
Nem…