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O jantar
04 de outubro, 2016 - por Max Franco
– Você estava toda de preto, perfeitamente linda, eu me lembro…
– Estava? – perguntou a elegante mulher fingindo chateação. – Não estou mais?
– Não faz pergunta óbvia. É lógico que está maravilhosa, mas aquela noite foi “a noite”. – disse ele sorrindo com todos os dentes e com os olhos. – Afinal, não é todo dia que você pede a mulher da sua vida em casamento, não é?
– E como você sabia que eu era a mulher da sua vida?
– Eu soube desde o começo. Desde aquela primeira aula na faculdade de direito. Mas você já sabe disso tudo. Já falamos mil vezes…
– Mas, eu adoro escutar. Gente apaixonada é sempre meio retardada. Gosta de ouvir as mesmas histórias milhares de vezes, ri das mesmas piadas, pede os mesmos pratos…
– Você vai pedir o mesmo?
– Claro. Você me conhece. Gosto de manter certas tradições. Além do mais, aqui é sempre uma delícia.
– Tudo aqui é uma delícia. Eles simplesmente não erram. Não importa o lugar, a qualidade é sempre a mesma.
– Você que é uma delícia.
– Foi o que você pensou quando viu a nova professora entrando na sala?
– “Professora estilosa” foi o que pensei. Sendo tão bonita nem precisa saber ensinar. Mas sabia, e como sabia. Absolutamente genial.
– Você é suspeito para dizer. Apaixonados não veem defeitos.
– Apaixonados amam até os defeitos.
– Menos essa sua mania de palitar os dentes à mesa e torcer pelo flamengo.
– A carne estava espetacular. E a sua?
– Se a perfeição existe, seria essa carne.
– Se a perfeição existe, seria você.
– Você é um bobo e me deixa sempre encabulada.
– Mesmo quando lhe chamei para sair na noite de formatura?
– Claro. Fiquei morta de vergonha…
– Mas, foi.
– Fugimos, na verdade. Viemos para cá jantar.
– Pedimos os mesmos pratos.
– E chopp.
– Muito chopp.
– Eu ria muito.
– Você sempre ri muito quando bebe.
– Dois anos depois, você me pediu em casamento.
– Oito anos atrás, dois, filhos e muitos sonhos realizados.
– Parabéns. Parabéns por me fazer feliz!
– Parabéns por nos fazermos felizes. Era o compromisso desde aquele primeiro jantar.
– Eu lhe pedi. “Me deixa ficar perto? Eu quero dedicar a minha vida a lhe fazer feliz!”
– Eu nunca havia escutado nada tão bonito.
– Tive uma excelente professora.
– Das melhores.
– A mais atraente.
– Teve outra atraente?
– Tive. A tia Gertrudes, professora da 3a série.
– A sua queda por professoras é antiga.
– Façamos um brinde. Hoje, afinal, é o nosso aniversário de casamento.
– Brinde funciona sem tintim?
– Por quê?
– Porque não dá para se fazer tintim com um oceano no meio.
– Prometa que nunca mais vai viajar no nosso aniversário.
– Prometo. Mas não estamos distantes. Dá para se ficar longe sem ficar distante.
– Ainda bem que existe a internet e podemos conversar on line.
– Ainda bem que existe você.
– E o nosso restaurante em várias partes do mundo.
– Inclusive aqui nos Estados Unidos.
– Um brinde, amor! Um brinde a nós.
– Mesmo longe, nunca distantes.
– O amor é sempre a melhor ponte.
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